Há mais de dois séculos, surgia a ideia de mudança da capital da República do Brasil para o interior do país. Desde os Inconfidentes em 1789, passando por José Bonifácio em 1823, decorrendo na missão exploradora do Planalto Central, em 1892, chamada Missão Cruls até a crença na profecia de Dom Bosco. Sobre as bases destes antecedentes, Brasília já apresentava os primeiros indícios de seu nascimento, sendo, em 1891, a “ideia” incluída, enfim, na Primeira Constituição Republicana e em todas as constituições seguintes.
Em 1946, o local demarcado pela Missão Cruls é escolhido e uma Comissão é enviada para estudar a localização da nova capital, apresentando resultados em 1948. Nove anos depois, em 1955, durante o 1° comício de Juscelino Kubitschek como candidato à Presidência da República, pautado na afirmativa de que o Brasil viveria 50 anos em 5, JK estabelece seu Plano de Metas acrescentando Brasília como sua meta síntese.
Em 1956, com sua posse, inicia-se propriamente a fase de construção da cidade. Nas palavras do presidente: “A criação de Brasília, a interiorização do governo, foi um ato democrático e irretratável de ocupação efetiva do nosso vazio territorial.” No mesmo ano, é lançado o concurso para o Plano Piloto de Brasília, sob o nome de “Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil”, com a participação de 26 projetos, o Plano Piloto do arquiteto e urbanista Lucio Costa é escolhido como vencedor.
Seu projeto, segundo o arquiteto: “Nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz”. Em seguida, somado a participação de importantes nomes como o arquiteto Oscar Niemeyer, o engenheiro Israel Pinheiro, o engenheiro agrônomo Bernardo Sayão, além do intenso trabalho dia e noite dos candangos, a cidade se fez. Construída sob as bases formais do modernismo, — sobretudo por meio da influencia trazida por Le Corbusier ao país —, o traço de modernidade estabeleceu-se desde a concepção inicial do projeto da cidade até suas edificações, pinturas, mobiliário e objetos escultóricos distribuídos espacialmente.
A presença de trabalhos como os do paisagista Roberto Burle Marx, de artistas plásticos como Portinari, Volpi, Bruno Giorgi, Ceschiatti, Maria Martins e dos murais de Athos Bulcão e Paulo Werneck junto ao conjunto urbanístico e arquitetural em Brasília definiria o que Mário Pedrosa concebeu como a noção de “Síntese das Artes”. Uma aspiração integradora que abrangeria, segundo o crítico, uma totalidade social, cultural e artística para a nova capital.
Um ano antes de sua inauguração, ocorre ainda em Brasília, organizada pela AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte), sob a vice-presidência de Mário Pedrosa, o Congresso Internacional Extraordinário de Críticos de Arte, reunindo críticos nacionais e internacionais com o objetivo de discutir a proposta de Brasília assim como os desdobramentos na produção brasileira e reflexões sobre a cidade nova.
E assim, em 21 de abril de 1960, oficializada a transferência e implantação do novo Distrito Federal no Planalto Central, Brasília é inaugurada, sendo o dia preenchido de festividades e solenidades. Como disse Juscelino Kubitschek acerca de tão esperada data: “Se acredito ou não, é outra história. O certo é que no dia 21 de abril, colocarei minha bagagem num automóvel e quem quiser que me acompanhe.”